Author/Uploaded by C.S. Lewis
SUMÁRIO 1. O quadro no quarto de dormir 2. A bordo do Peregrino da Alvorada 3. As Ilhas Solitárias 4. O que Caspian fez ali 5. A tormenta e o que resultou dela 6. As aventuras de Eustáquio 7. Como a aventura terminou 8. Duas escapadas por pouco 9. A Ilha das Vozes 10. O Livro do Mago 11. Os Tontópodes ficam felizes 12. A Ilha...
SUMÁRIO 1. O quadro no quarto de dormir 2. A bordo do Peregrino da Alvorada 3. As Ilhas Solitárias 4. O que Caspian fez ali 5. A tormenta e o que resultou dela 6. As aventuras de Eustáquio 7. Como a aventura terminou 8. Duas escapadas por pouco 9. A Ilha das Vozes 10. O Livro do Mago 11. Os Tontópodes ficam felizes 12. A Ilha Sombria 13. Os três adormecidos 14. O começo do Fim do Mundo 15. As maravilhas do Mar Derradeiro 16. O verdadeiro Fim do Mundo Havia um menino chamado Eustáquio Clarêncio Pífio, e ele quase merecia esse nome. Seus pais o chamavam de Eustáquio Clarêncio; os professores, de Pífio. Não posso lhe dizer como os amigos o chamavam, pois ele não tinha nenhum. Não chamava seu pai e sua mãe de “pai” e “mãe”, mas, sim, de Haroldo e Alberta. Eram gente muito moderna e avançada. Eram vegetarianos, não fumavam e não bebiam, e usavam um tipo especial de roupas de baixo. Em sua casa, havia bem poucos móveis e bem poucas roupas de cama, e as janelas estavam sempre abertas. Eustáquio Clarêncio gostava de animais, especialmente de besouros, se estivessem mortos e alfinetados em um cartão. Gostava de livros se fossem livros de informações e tivessem figuras de maquinários ou de crianças estrangeiras sedentárias exercitando-se em escolas-modelo. Eustáquio Clarêncio não gostava de seus primos, os quatro Pevensie — Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia. Mas ficou bem contente quando ouviu dizer que Edmundo e Lúcia vinham passar um tempo com ele. Pois, lá no fundo, gostava de mandar e intimidar, e, apesar de ser uma pessoinha frágil que não conseguiria enfrentar nem mesmo Lúcia em uma briga, muito menos Edmundo, ele sabia que há dezenas de maneiras de infernizar a vida das pessoas quando se está em sua própria casa e elas são apenas visitas. Edmundo e Lúcia não queriam nem um pouco ficar com o tio Haroldo e a tia Alberta. Mas não havia o que fazer. Naquele verão, papai arranjara um trabalho para dar palestras nos Estados Unidos durante dezesseis semanas e mamãe iria com ele, pois havia dez anos que não tirava férias de verdade. Pedro estava estudando muito para uma prova e passaria as férias sendo orientado pelo velho Professor Kirke, o dono da casa na qual as quatro crianças haviam tido aventuras maravilhosas muito tempo atrás, nos anos da guerra. Se ele ainda estivesse naquela casa, teria convidado todos para ficarem com ele. Mas, de algum modo, empobrecera desde os velhos tempos e morava em um pequeno chalé com apenas um quarto de sobra. Seria um custo muito alto levar os outros três aos Estados Unidos, de modo que só Susana fora. Os adultos a consideravam a bela da família, e ela não era boa em tarefas escolares (embora, sob outros aspectos, fosse bem velha para a idade), e mamãe disse que ela “aproveitaria muito mais uma viagem aos Estados Unidos do que os menores”. Edmundo e Lúcia tentaram não levar a mal a sorte de Susana, mas era terrível ter de passar as férias de verão na casa da tia. — Mas é muito pior para mim — disse Edmundo —, pois você pelo menos terá seu próprio quarto e eu vou ter que compartilhar um com aquela peste do Eustáquio. A história tem início numa tarde em que Edmundo e Lúcia haviam reservado preciosos minutos para ficarem sozinhos. É claro que conversavam sobre Nárnia, o nome de seu país particular e secreto. Todos nós, pelo menos a maioria, creio, têm um país secreto, mas se trata apenas de um país imaginário. Nesse aspecto, Edmundo e Lúcia tinham mais sorte que a maior parte das pessoas. O país secreto deles era real. Já o haviam visitado duas vezes — não em jogos ou sonhos, mas na vida real. É claro que haviam chegado lá por magia, que é o único meio de se chegar a Nárnia. E, na própria Nárnia, receberam a promessa, ou quase uma promessa, de que algum dia voltariam. Você pode imaginar que conversavam muito a esse respeito quando tinham a oportunidade. Estavam no quarto de Lúcia, sentados na beira da cama e olhando para um quadro na parede em frente. Era o único quadro da casa de que gostavam. A tia Alberta não gostava nem um pouco desse quadro (por isso fora relegado ao quartinho dos fundos, no andar de cima), mas não podia se livrar dele porque tinha sido um presente de casamento de alguém que ela não queria ofender. Era o quadro de um navio — um navio que navegava bem de frente para o observador. Sua proa era dourada e tinha a forma de uma cabeça de dragão com a boca escancarada. Ele só tinha um mastro e uma grande vela quadrada de cor púrpura viva. Os costados do navio — o que se podia ver deles, onde terminavam as asas douradas do dragão — eram verdes. Ele acabara de subir ao topo de uma gloriosa onda azul, e a encosta mais próxima dessa onda descia na direção do observador, com riscos e bolhas na superfície. Obviamente, deslocava-se rapidamente diante de um vento veloz, um pouco inclinado para bombordo. (Aliás, se você realmente vai ler esta história, e caso ainda não saiba, seria bom colocar na cabeça que o lado esquerdo de um navio, quando se olha para a frente, é bombordo, enquanto o direito é boreste.) Toda a luz do sol batia naquele lado e a água era repleta de tons em verde e púrpura. No outro lado, era de um azul mais escuro, devido à sombra do navio. — A questão é a seguinte — disse Edmundo: — Olhar para um navio narniano, quando não se pode ir para lá, não piora as coisas. — Até olhar é melhor que nada — disse Lúcia. — E é um navio bem narniano. — Ainda estão brincando desse velho jogo? — perguntou Eustáquio