Author/Uploaded by C.S. Lewis
SUMÁRIO 1. Como Shasta partiu em suas viagens 2. Uma aventura pelo caminho 3. Nos portões de Tashbaan 4. Shasta se encontra com os narnianos 5. Príncipe Corin 6. Shasta entre as tumbas 7. Aravis em Tashbaan 8. Na casa do Tisroc 9. Através do deserto 10. O ermitão do Marco Meridional 11. O indesejável companheiro de viagem...
SUMÁRIO 1. Como Shasta partiu em suas viagens 2. Uma aventura pelo caminho 3. Nos portões de Tashbaan 4. Shasta se encontra com os narnianos 5. Príncipe Corin 6. Shasta entre as tumbas 7. Aravis em Tashbaan 8. Na casa do Tisroc 9. Através do deserto 10. O ermitão do Marco Meridional 11. O indesejável companheiro de viagem 12. Shasta em Nárnia 13. O combate em Anvard 14. Como Bri se tornou um cavalo mais sábio 15. Rabadash, o Ridículo — É bem assim — respondeu secamente o hóspede. — Mas, do mesmo modo, outro poeta disse: “Aquele que tenta enganar os sensatos já está despindo suas costas para o açoite”. Não carregue sua boca idosa com falsidades. O menino claramente não é seu filho, pois sua face é escura como a minha, enquanto o menino é claro e branco como os amaldiçoados mas belos bárbaros que habitam o Norte remoto. — Bem já foi dito — respondeu o pescador — que espadas podem ser afastadas com escudos, mas que o olho da sabedoria atravessa qualquer defesa! Saiba, pois, ó meu formidável hóspede, que, por causa de minha extrema pobreza, jamais me casei e não tenho filhos. Mas, no mesmo ano em que o Tisroc (que ele viva para sempre!) iniciou seu augusto e beneficente reino, numa noite em que a lua estava cheia, aprouve aos deuses me tirar o sono. Então, levantei-me do leito nesta choupana e fui até a praia para me refazer, contemplando a água e a lua, e respirando o ar fresco. Nesse momento, ouvi um ruído como de remos que vinham em minha direção por sobre a água e, em seguida, algo como um choro fraco. Logo depois, a maré trouxe à terra um barquinho em que nada havia senão um homem magro, aparentando extrema inanição e sede, que parecia haver morrido apenas alguns momentos antes (pois ainda estava quente), um odre de água vazio e uma criança ainda viva. “Sem dúvida”, disse eu, “estes infelizes escaparam do naufrágio de uma grande nau, mas, pelos admiráveis desígnios dos deuses, o mais velho morreu de fome para manter a criança viva e pereceu à vista da terra”. Assim, recordando como os deuses jamais deixam de recompensar os que favorecem os indigentes, e movido pela compaixão, pois seu servo é homem de coração bondoso... — Deixe de lado todas essas palavras ociosas em seu próprio louvor — interrompeu o Tarkaan. — Basta saber que pegaste a criança e ganhaste dela em labuta dez vezes o valor do pão cotidiano, como qualquer um pode ver. E agora dize-me de imediato que preço queres por ele, pois estou cansado de sua tagarelice. — Você mesmo disse sabiamente — respondeu Arshish — que a labuta do menino me foi de valor inestimável. Isso deve ser levado em consideração ao estipular o preço. Pois, se eu vender o menino, sem dúvida terei de comprar ou empregar outro para fazer seu trabalho. — Eu lhe darei quinze crescentes por ele — disse o Tarkaan. — Quinze! — exclamou Arshish com uma voz intermediária entre choro e grito. — Quinze! Para o apoio de minha velhice e o deleite de meus olhos! Não zombe de minha barba grisalha, ainda que seja Tarkaan. Meu preço é setenta. A essa altura, Shasta se levantou e se afastou na ponta dos pés. Ouvira tudo o que queria, pois muitas vezes escutara os homens regateando na vila e sabia como isso era feito. Estava bem certo de que, no fim, Arshish o venderia por um valor muito superior aos quinze crescentes e bem inferior aos setenta, mas que ele e o Tarkaan levariam horas para chegar a um acordo. Não pense que Shasta se sentiu como nos sentiríamos, você e eu, se tivéssemos acabado de escutar nossos pais falando em nos vender como escravizados. Por um lado, sua vida era apenas um pouco melhor que a escravidão; pelo que sabia, o estranho nobre do grande cavalo poderia ser mais bondoso com ele que Arshish. Por outro lado, a história sobre sua própria descoberta no barco o enchera de ânimo e de um sentimento de alívio. Com frequência, não conseguia compreender por que, por mais que tentasse, nunca conseguira amar o pescador, e sabia que um menino devia amar o pai. Agora, aparentemente, ele nem era parente de Arshish. Isso tirou um grande peso de sua consciência. “Ora, eu poderia ser qualquer um!”, pensou ele. “Eu mesmo poderia ser filho de um Tarkaan, ou filho do Tisroc (que ele viva para sempre!) ou de um deus!” Estava de pé na área gramada, diante da cabana, enquanto pensava nessas coisas. O crepúsculo chegava depressa, e uma ou duas estrelas já haviam surgido, mas resquícios do pôr do sol ainda podiam ser vistos a oeste. Não muito distante dali, o cavalo do estranho, frouxamente atado a um anel de ferro na parede do estábulo do burro, estava pastando. Shasta foi caminhando até lá e lhe afagou o pescoço. Ele continuou arrancando o capim e não lhe deu atenção. Então, outro pensamento veio à mente de Shasta. — Eu me pergunto que espécie de homem é esse Tarkaan — disse ele em voz alta. — Seria esplêndido se ele fosse bondoso. Alguns escravizados na casa dos grandes senhores não têm praticamente nada para fazer. Usam roupas lindas e comem carne todos os dias. Quem sabe ele me leve às guerras e eu salve sua vida em uma batalha, então ele me liberte, me adote como filho e me dê um palácio, uma carruagem e uma armadura. Mas, por outro lado, ele pode ser um homem horrendo e cruel. Pode me mandar trabalhar nos campos, acorrentado. Eu gostaria de saber. Mas como? Aposto que esse cavalo sabe, quem me dera que pudesse me contar! O cavalo erguera a cabeça. Shasta afagou seu nariz, liso como cetim, e disse: —