Author/Uploaded by C.S. Lewis
SUMÁRIO 1. A porta errada 2. Gregório e seu tio 3. O Bosque entre os mundos 4. O sino e o martelo 5. A Palavra deplorável 6. O começo dos apuros do Tio André 7. O que aconteceu na porta da frente 8. O combate no poste de luz 9. A fundação de Nárnia 10. A primeira brincadeira e outros assuntos 11. Gregório e seu Tio André estão em a...
SUMÁRIO 1. A porta errada 2. Gregório e seu tio 3. O Bosque entre os mundos 4. O sino e o martelo 5. A Palavra deplorável 6. O começo dos apuros do Tio André 7. O que aconteceu na porta da frente 8. O combate no poste de luz 9. A fundação de Nárnia 10. A primeira brincadeira e outros assuntos 11. Gregório e seu Tio André estão em apuros 12. A aventura de Morango 13. Um encontro inesperado 14. Plantando a árvore 15. O fim desta história e o começo de todas as outras Esta é uma história sobre algo que aconteceu muito tempo atrás, quando seu avô ainda era uma criança. É uma história muito importante porque mostra como tiveram início todas as idas e vindas entre nosso próprio mundo e a terra de Nárnia. Naqueles dias, o Sr. Sherlock Holmes ainda morava na Baker Street e os Bastables estavam procurando um tesouro na Lewisham Road. Naquela época, se você fosse menino, tinha de usar um colarinho largo e engomado todos os dias, e as escolas costumavam ser mais desagradáveis que agora. Mas as refeições eram melhores; quanto aos doces, nem vou lhe contar quanto eram baratos e bons, pois isso só lhe daria água na boca, a troco de nada. E, naqueles dias, vivia em Londres uma menina chamada Polly Pontes. Ela vivia em uma de uma longa fileira de casas, todas geminadas. Certa manhã, Polly estava do lado de fora, no quintal, quando um menino veio escalando do jardim vizinho e pôs o rosto por cima do muro. Polly ficou muito surpresa porque, até então, nunca houvera crianças naquela casa, só o Sr. Queiroz e a Srta. Queiroz, irmão e irmã, solteirão e solteirona, morando juntos. Por isso, ela ergueu os olhos, cheia de curiosidade. O rosto do menino estranho estava muito sujo. Dificilmente estaria mais sujo se ele tivesse primeiro esfregado as mãos na terra, depois chorado bastante e, por fim, enxugado o rosto com as mãos. Na verdade, fora quase isso que ele estivera fazendo. — Olá — cumprimentou Polly. — Olá — devolveu o menino. — Qual é o seu nome? — Polly — respondeu a menina. — E o seu? — Gregório — disse o menino. — Ora, que nome engraçado! — exclamou Polly. — Não tem nem metade da graça de Polly — disse Gregório. — Tem, sim — retrucou a menina. — Não tem, não — insistiu Gregório. — Seja como for, eu lavo o rosto — disse Polly. — E é isso que você precisa fazer, principalmente depois... — e então parou. Ela ia dizer “Depois que você esteve chorando”, mas pensou que não seria educado. — Tudo bem, preciso mesmo — disse Gregório, em voz muito mais alta, como um menino tão infeliz que não se importa que alguém saiba que esteve chorando. — Você também precisaria lavar — prosseguiu — se tivesse vivido a vida toda no interior, se tivesse um pônei e um rio nos fundos do jardim, e depois fosse trazido para morar em um buraco desgraçado como este. — Londres não é um buraco — contestou Polly, indignada. Mas o menino estava agitado demais para lhe dar atenção, e prosseguiu: — E se o seu pai estivesse na Índia e você tivesse que vir morar com uma tia e um tio que é doido (quem quer algo assim?), e se o motivo fosse eles estarem cuidando de sua mãe e se sua mãe estivesse doente e fosse... fosse... morrer. Então, seu rosto assumiu uma expressão estranha, como quando se tenta reprimir as lágrimas. — Eu não sabia. Sinto muito — disse Polly, com humildade. Em seguida, como mal sabia o que dizer, e também para desviar a mente de Gregório para assuntos alegres, perguntou: — O Sr. Queiroz é mesmo doido? — Bem, ou ele é doido — respondeu Gregório — ou há algum mistério. Ele tem um escritório no andar de cima, e a Tia Leta diz que nunca devo ir até lá. Bem, para início de conversa, parece uma atitude suspeita. E depois, tem outra coisa. Quando ele tenta me dizer alguma coisa na hora das refeições – ele nem tenta falar com ela –, ela sempre o faz calar a boca. Ela diz: “Não perturbe o menino, André” ou “Tenho certeza de que Gregório não quer ouvir isso”. Ou ainda: “Bem, Gregório, não gostaria de sair e brincar no jardim?”. — Que espécie de coisas ele tenta dizer? — Não sei. Ele nunca vai muito longe. Mas tem mais ainda. Certa noite – na verdade, foi na noite passada –, quando eu passava pelo pé da escada do sótão, a caminho da cama (não gosto muito de passar por ali), tenho certeza de que ouvi um grito. — Quem sabe ele tem uma esposa maluca trancada lá! — Sim, eu pensei nisso. — Ou quem sabe ele é um falsificador? — Ou talvez tenha sido um pirata, como o homem do começo da Ilha do Tesouro, sempre se escondendo dos velhos colegas de tripulação. — Que emocionante! — exclamou Polly. — Não imaginava que sua casa era tão interessante! — Você pode achar que é interessante — disse Gregório. — Mas não gostaria dela se tivesse que dormir lá. O que acharia de estar deitada, ainda acordada, prestando atenção para ver se os passos do Tio André vêm-se esgueirando pelo corredor do seu quarto? Ele tem uns olhos tão medonhos. Foi assim que Polly e Gregório se conheceram. E, como era justamente o início das férias de verão, e nenhum deles ia para a praia naquele ano, eles se encontravam quase todos os dias. Suas aventuras começaram principalmente porque foi um dos verões mais úmidos e frios em vários anos. Isso os obrigou a fazer algumas coisas dentro de casa: poderíamos dizer explorações dentro de casa. É maravilhoso quanta exploração se pode fazer com um toco de vela em uma casa grande,